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Minha Filha Poderá Viver Só


Em casa a minha mãe sempre teve o hábito de ler a revista Seleções, todo o mês ela comprava um exemplar, e no vácuo eu também sempre lia. E acabei me viciando nesse livrinho desde os 10 anos de idade.
Hoje durante o almoço, a mamãe tirou de dentro de uma sacola várias Seleções e começou a contar que elas eram das décadas de 40, 50 e 60.
Fiquei impressionada e encantada com as fotografias, as propagandas, as histórias e o vocabulário.
Peguei uma para ler de Março de 1948, e um texto chamou a minha atenção.
Eu me vi em muitas partes dele em relação a questão de “aprender a viver só”, pois sempre pensei dessa forma, a necessidade do ser humano de ser independente, de saber alimentar a sua alma, sem sempre precisar de outra pessoa para isso. Acho que hoje em dia a falta de auto complementação espiritual está em falta.
É também interessante ver o papel da mulher na década de 40, e as suas principais necessidades.
Eu reescreveria esse texto com outras palavras, mas não mudaria a sua essência. Sempre me empolgo quando encontro algo que complementa os meus pensamentos.
Por isso tive vontade de transcreve-lo:

Minha Filha Poderá Viver Só
Condensado de Woman´s Home Companion – Por David L. Cohn
(Publicado na revista Seleção em Março de 1948)

Certa vez, depois de jantar com uma das mulheres mais sensatas que conheço, ficamos conversando longamente sobre sobre um assunto que sempre interessou a humanidade – como ser feliz na vida. E ouvi-lhe este observação que me impressionou pela a sua sabedoria: “Estou educando a minha filha para viver sozinha.”
Não queria dizer com isso que desejava ver a menina ficar solteirona ou fazer-se freira. Sua esperança é que a filha se case, tenha um lar, filhos, viva plenamente a vida. Mas acha que um dos meios de ter felicidade e harmonia entre os membro da família é saber viver só.
Raramente a mulher encontra no marido interesses idênticos aos seus, ou as qualidades sonhadas na juventude. O casamento, entretanto, não tem que ser infeliz por causa dessas falhas. Pode muito bem torna-se fonte de felicidade e dum ambiente gerador de confiança, tão essencial à boa formação dos filhos.
Aprender a viver só, significa achar do nosso próprio espírito e imaginação, uma existência plenamente satisfatória, sem por isso recusar qualquer coisa aos outros. Mental e espiritualmente, equivale a termos para o nosso uso exclusivo um quarto numa casa repleta de atividades infantis e de objetos de uso das crianças.
Neste sentido “viver só” significa, em parte, capacidade de achar prazer em pequenas coisas. Os que cultivam o tesouro da vista e da audição não sofrem de tédio nem de fadiga espiritual. Para eles, a forma caprichosa duma nuvem, o jogo de luz e sombra numa paisagem de inverno, a poesia dum jardim na primavera, deliciam o espírito, refrescam a alma e criam um novo mundo. São prazeres que nada pode corromper ou remover, que não dependem de dinheiro nem de equipamento material. São prazeres de todas as idades e de todos os tempos, que nos permitem conservar na idade madura a herança preciosa de nossa infância – a capacidade de enxergar o mundo com olhos admirados.
Os livros são indispensáveis à arte de viver só, livros que amenizam e aquecem um mundo hostil e frio; que trazem para nosso lado os mais nobres espíritos e os mais magnânimos corações do mundo; que nos dão acesso imediato às mais eloquentes vozes, aos mais alegres companheiros.
Os livros nunca falham na tarefa de nos levantar o ânimo.
Neste variado mundo interior existem também tais tesouros de música, escultura, pintura, arquitetura e ciência, que ninguém será levado a viver de maneira mesquinha e estreita, a não ser que deliberadamente se condene à pobreza de espírito.
Era a tudo isso que minha amiga se referia ao dizer que estava educando a filha para viver só. Desejava dotá-la duma prenda que por sua própria natureza se tornasse, com o decorrer do tempo cada vez mais valiosa. Além disso, moviam-na outras considerações, aplicáveis a todos nós.
Cada um de nós está, de certa maneira, encarcerado na cela de seu cérebro. Tentamos fugir ao cativeiro por meio do amor, da simpatia, da afeição, da compreensão; de conversas, em que expressamos nossa personalidade e escutamos as explicações dos outros. Nunca, porém, se obtem fuga completa. Em vão procuramos tocar corações alheios, em vão tentam eles tocar os nossos. É aconselhável, portanto, que nos preparemos para o mundo dentro das paredes da prisão de nosso próprio ser.
Não somente estamos isolados, neste sentido, como estamos impossibilitados de evitar doenças, perda de faculdades físicas, morte de entes queridos, talvez reverses financeiros. Como poderemos deixar de constituir um peso para nossos amigos e parentes? O recurso está em desenvolvermos plenamente o espírito e a capacidade de viver sozinhos.
Finalmente, a mulher tem de preparar-se para a fase de vida, mais precoce para ela que para o homem, em que já não poderá confiar nas graças físicas como fonte de companheirismo conjugal, de amizade com outras pessoas, de camaradagem com os filhos. Se não estiver preparada, pode, aos cinquenta anos, ver-se distante do mundo, seca, terrivelmente entediada. Mas o paradoxo está em que se estiver pronta para essa emergência, nunca terá de viver sozinha, porque onde quer que vá há de levar consigo um mundo interior fértil, transbordante. Não importa qual seja sua idade e sua aparência, será sempre bem recebida como mulher amável, alegre, estimulante, atraente. Manterá o interesse do marido, a camaradagem dos filhos, desfrutará a amizade dos que sentem o calor reconfortante vindo de seu espírito largo e de seu coração terno.
Para nossa felicidade, existem dessas mulheres em toda parte – mulheres interiormente felizes, encanto da sociedade, ornamento de nossa civilização.